CONSCIENCIA UMBANDISTA



No alvorecer de um dia, somos capazes de notar a grandeza que esta farta Terra nos oferece. Tudo e todos são tocados pelo sol e seus raios renovadores, que carregam por si só a esperança de que mesmo diante das mais terríveis tempestades ele retornará.
Imaginem a Umbanda como esta mesma Terra, um enorme paraíso capaz de comportar todos nós, sejamos carnais ou não. Nesta Terra não existe guerra, discórdia, desunião, e um único Sol brilha sobre nós, seja ele Zambi, Olorum, Orumilá, Deus, como preferirem, independente de como o chamamos ele sempre brilhará e iluminará não somente nós, mas cada folha, cada fio de cabelo, cada pensamento.
Há quase 100 anos, este paraíso nos foi apresentado por um caboclo que em sua humildade foi renegado por um candomblé cheio de dogmas e culturas obsoletas, por acharem de tratar-se de um egum. Este mesmo caboclo se apresentando aos irmão kardecistas também se achou ignorado, já que para o intelecto destes, tratava-se de um espírito de baixa evolução e ainda preso às vicissitudes terrenas.
Há quase um século, este caboclo, na defesa de sua fé, de sua crença e da Lei que representava, identificou-se honrosamente como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, e deu início ao ritual que hoje conhecemos como Umbanda.
Entretanto, sob o Sol que se doava incondicionalmente a tudo e a todos, formou-se por vontades talvez maléficas, cheias de orgulhos próprios, pilares imensos onde sobre eles eram exaltados não mais os raios daquela luz infinita, mas sim energias turvas, essas sim, cheias das vicissitudes humanas, e Babás, Babalaôs, Yalorixás, tomaram por si o lugar dos antigos fariseus expulsos do templo por Jesus. Suas verdades eram tão individuais, tão turvas, que aos poucos se tornaram intocáveis e ofuscaram a luz verdadeira, onde em seus espelhos eram capazes de refletir apenas inveja e prazeres mundanos, qualificando aquilo como a Luz Original, a mesma que o Caboclo das Sete Encruzilhadas nos apresentou. Os Papas da Umbanda se tornaram inquestionáveis e uma nuvem carregadíssima de valores vis impediu que a grande Verdade nos fosse revelada.
Assim como nos mitos de Atlântida, onde o mal uso de sua sabedoria acarretou sua extinção, ou de Sodoma e Gomorra, destruídas por suas impurezas e pelo apego à carne e não ao espírito, pelo apego à intriga e não ao amor, iniciou-se então a perda daquilo que consideramos verdadeiro.
Aos poucos, os raios de Deus enviados a nós na forma de Orixás, Caboclos, Baianos, Marinheiros, Boiadeiros, enfim, foram se tornando apenas um reflexo e não uma luz como realmente são. Reflexos de espelhos disfarçados de médiuns, de Babás, de Yalorixás.
E seus conceitos foram perdendo o valor, de tal forma como se não mais possuíssem a seiva divina. A Umbanda como nos foi apresentada e não "criada", era uma maneira dos homens se espiritualizarem através de suas entidades, e não de humanizá-las por nossos orgulhos, dogmas, e doutrinas. Se mesmo o guardião da verdade Umbanda foi tido como um espírito sem "doutrina", como podemos nós, chamarmos nossos próprios Orixás, a própria essência e centelha de Deus enviada por nós como não doutrinados.
A Umbanda como nos foi apresentada, era uma religião sem dogmas, onde a verdade única não se curvava diante de caprichos e melindres "mediúnicos", uma religião que adversa às demais não possui um livro sagrado para conduzir seu rebanho.
A mesma bandeira que cobria todos os filhos de Oxalá foi se fragmentando, e tornando-se tendas e terreiros com dogmas e doutrinas próprias, absolutamente humanizadas. Isso explicaria as divergências entre entidades que na essência falariam e fariam a mesma coisa.
Muitos "médiuns" iluminados tentaram e ainda tentam definir a Umbanda, esclarecer aquilo que talvez tenha sido apresentado justamente sem explicação por vontade maior. E criaram idéias mirabolantes para definir aquilo que acreditavam em seus intelectos ser a Umbanda. Psicógrafos e Babalaôs, muitos em grande escala, criaram seus dogmas, sua maneira de ver aquilo que eles mesmo ofuscam. E abaixo deles, em suas tendas e terreiros, verdadeiros palácios foram sustentando aqueles pilares chamados Babás, e cada um, à sua forma Humana, passou a conduzir seu rebanho da maneira como achavam conveniente.
E muitas vezes sejam escritores ou não, dizem: "isto é o que eu creio, tens o direito de acreditar ou não".
Como ficam as pessoas pobres de intelecto que ao se dirigirem a um templo em busca de um auxílio assim como a prece de cáritas nos diz: "Um raio, uma faísca do vosso amor pode abrasar a Terra", estes pobres vão embusca daquela luz divina, mas são envolvidos por plumas e paetês, magias sem fundamento, palavras ocas, "entidades" ditas como festeiras, sei bem a festa que gostam, e logo acham que aquela Umbanda é aquele paraíso, pobres, caminham sobre as trevas sem perceber que em sua maioria, as tendas possuem lobos sob a pele de um carneiro.
E de definições em definições, foram transformando Ogum, ditando sua maneira de trabalhar, qualificando Oxum como sendo ou não uma cabocla de Iemanjá, atribuindo linhas inexistentes às sete linhas sagradas somente para preencherem suas lacunas intelectuais. E surgem assim Umbandas como Umbandomblés, Umbanda Branca, Umbanda Negra ou Quimbanda, enfim, definições humanas e sem doutrina para aquilo que somente o Divino têm conhecimento.
E aquele Sol não deixou de brilhar, pelo contrário, ainda habita no altíssimo, altíssimo este que Babá nenhuma será capaz de chegar ou conceber, por mais alta que seja sua hierarquia e por mais alto que seus "filhos de fé" sejam capazes de colocá-la.
Assim como Cristo pregou e ensinou, e seus "apóstolos" promoveram uma verdadeira biblioteca de divergências, assim aconteceu e acontece na Umbanda.
Enquanto Orixás, guias e protetores tentam pregar e ensinar, seus "sacerdortes" criam estigmas e paradigmas inexistentes e os qualificam humanamente como sem doutrina.
Nesta Umbanda de Babás que vemos nos templos, procuro apenas repousar sob Aquele Sol onde eu e meus irmãos de fé possamos nos banhar na Verdade de Deus e não dos Homens.


AUTOR: AROKIN

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