EMBRANQUECIMENTO DA UMBANDA



Na concepção da verdade, a Umbanda possui sim seus preceitos particulares, independentes, e que em muito se diferenciam das demais religiões que lhe deram origem, como o Catolicismo, a Doutrina Espírita comumente chamada de Kardecismo, nome este atribuído em homenagem a seu criador, Allan Kardec, os cultos Africanos e ameríndios.
Entretanto, o que presenciamos nas últmas décadas foi um embranquecimento da Umbanda e de seus conceitos mais sagrados.
Há anos venho percebendo a abominação e indignação de determinados médiuns, sacerdotes, escritores quando diante de determinadas Tendas Umbandistas se deparam com hábitos e costumes mais enraizados aos cultos africanos do que aos que estão mais habituados. Sabemos disto, e que fique bem claro que Umbanda é Umbanda e Candomblé é Candomblé, mas estas duas crenças assim como o Catimbó que acaba sendo incutido neste conjunto, o Batuque e a Santeria em Cuba, comungam de um mesmo seio. É do leite africano que estas crenças se alimentam. E ainda que tentem esconder este fato, se procurarem bem, sob uma toalha, sob um altar, nas portas de tantas casas que se auto-entitulam Umbanda Branca (por “não estarem” diretamente ligadas a cultos Afro) estará ali a respota que colocará suas crenças em dúvida.
Um Baiano certa vez me ensinou que o homem está aprendendo muitos pontos, cabalas, muitas magias, mas está procurando esconder debaixo do tapete e por que não dizer, esquecendo, determinadas mandingas que nos foram deixadas de herança.
O que quero dizer, dentre outras coisas, é que por mais que uma Tenda Umbandista substitua os Assentamentos usados nos Cultos Afro-Enraizados, como prefiro chamar, ainda que ela pretenda substituir tais assentamentos por Imagens Católicas lindas, com expressões européias, com raras exceções, substituí-las por pedras, cristais, imantados, a partir do momento em que tais imagens estão ali, estão por um motivo plausível e lógico e não somente por estar. Do contrário a literatura Umbandista deveria ser revista, haja vista que em suma maioria os autores alegam que a Umbanda não é uma religião de Ídolos, e que não reverencia Imagens. Logo, ainda que os mais “evoluídos” digam que não possuem imagens em seus altares, pois até mesmo o termo Congá tem sido discretamente substituído, e que utilizam de elementos naturais, com sementes, cristais, e demais elementos que não os classificariam como idólatras, esquecem de um pequeno porém, o de que também por estarem ali, estão por algum motivo e possuem seu fundamento.
Embora com preceitos diferenciados, é importante lembrar que todas as imagens de um Templo Umbandista que estejam dispostas desde a sua porta até o seu congá são devidamente “cruzadas”, benzidas, energizadas, como bem quiserem, em síntese, representam ali uma espécie de Assentamento que substituem muitas vezes as ferramentas utilizadas nos cultos de nação. São imantadas energéticamente com a finalidade de alinharem as energias do congá e às firmezas da casa em questão.
Ignorar a herança que os Africanos nos deixaram é, por que não dizer, um genocidio cultural.
Somos capazes de enxergar prismas absurdos que alguns autores têm, com tamanha ousadia, criado para definir melhor o que seria o fundamento Umbandista.
Não precisamos ir muito longe. Busquemos as definições sobre a linha dos baianos.
Em suma maioria dirão que trata-se de uma linha como todas as outras da Umbanda que representa uma classe sócio-cultural muito oprimida e que milita nas plagas Umbandistas a fim de buscar seu evolutivo e resgatar seus carmas através da Lei de Pemba.
Levando-se em conta que raramente verão um Baiano trabalhar num templo Umbandista da Bahia, havendo casos em que os próprios co-terraneos encarnados muitas vezes jamais terão ouvirdo sequer falar de tal linha de trabalho, limitando sua atuação às regiões mais sulistas de nosso País.
A considerar que a manifestação de tais “Baianos” que englobam, em verdade, espíritos que se apresentam como Cearenses, Pernambucanos, Paraibanos, podemos considerar que muitas de suas mandingas e métodos de trabalho, aprenderam em vida.
Não há um caminho diferente a seguir com raciocínio lógico e histórico. Se eram negros, cultuavam os Orixás, ainda que de maneira diferente, salvas as exceções daqueles que de fato foram convertidos para religiões ditas Cristãs. Se habitavam no berço do que é hoje e que com certeza foi em seu auge o maior centro Africanizado, religiosamente falando, com certeza possuiam seus conceitos, milongas, enfim, eram mandingueiros.
Não é de se estranhar que muitos que procuram um centro de Umbanda nos dias de hoje se sintam mais a vontade e até mesmo mais confiantes ao conversar com um Baiano e, ou Preto-Velho do que com um Caboclo, e que isto não seja levado como via de regra.
Talvez pelo fato de serem tais entidades as mais ligadas ao que estamos acostumados a ver e o mais importante, o que fomos ensinados a ver.
Esquecem, estes Umbandistas Branquistas, como prefiro chamá-los, que aquele Preto-Velho que incorpora nele hoje, fora um escravo que nas senzalas louvava seus Orixás como hoje seus Médiuns abominam.
Hoje é comum ver e ouvir falar que os Pretos-Velhos não foram escravos. E isso não significa que de fato todos os pretos-velhos que incorporam e trabalham nos terreiros tenham necessariamente sido escravos em vida, porém o que mais me espanta é saber que tais negros têem de ser vistos como Espíritos Evoluidíssimos (brancos) que descem de seus Alvos Santuários Astrais e assumem misericordiosamente a figura calejada de um Negro escravo para dar suas consultas.
Modo bonito de dizer que a Umbanda hoje está aprendendo a renegar as suas raízes.
Se a Umbanda existe hoje, que fique bem claro, existe pela prévia existência dos Africanos escravos que trouxeram ao Brasil o culto aos Orixás.
Diremos então que o Caboclo das Sete Encruzilhadas, no ato da anunciação da Umbanda poderia dizer que seriam os Chineses, japoneses, europeus, enfim, qualquer outra raça que não a negra e índia que trabalhariam na nova religião.
Até onde me consta, àquele 15 de novembro, tal entidade deixou bem claro que seriam os espíritos dos Negros, dos Índios e todos os demais que não encontravam espaço nas mesas Kardecistas que seriam os guias desta Umbanda de Todos Nós.
Ainda que consideremos as várias encarnações de nossos mentores, guias e protetores, deixemos claro, que mesmo tendo sido um Padre, o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou como em sua última encarnação. Como um índio. Simplesmente um índio. E o fato dele ter sido um Padre em outra encarnação não aumentava em nada seu nível evolutivo, pois ali estava ele, trabalhando e militando como os tantos outros guias que se manifestariam doravante e até os que já se manifestavam antes mesmo da referida data.
O que tem acontecido com a Umbanda de pé no chão? Esta não é mais considerada a correta.
O nego véio que se negou a sentar a mesa junto aos homens brancos kardecistas àquele 15 de novembro, hoje seria estirpado ou considerado um preto-velho que necessita de doutrina. Em verdade quem necessita de doutrina são os médiuns.
Vemos constantemente entidades tidas como do culto africano, haja vista que se manifestam como enviados de Orixás como Iansã, Iemanjá e até mesmo Nanã, incorporar em médiuns com tamancos. Com certeza isso lhes parece permitido pelo fato de serem tais tamancos da cor branca. Eles esqueceram da energia da Terra.
Muitos falam de Magia. Que a Umbanda é Magia. Pois ainda que bebam da fonte dos antepassados magos, dos antigos sacerdotes orientais, eles esqueceram que a Umbanda continua derivando e se deliciando da seiva Africana.
O que dizer então da terra perdida, Atlantida. Desenterraram a lendária Atlântida somente para dizer que os Africanos deturparam o culto aos Orixás e que o verdadeiro culto era praticado milênios atrás.
Pois então resumirei da mesma forma como estes Neo-Umbandistas devem se portar. Da mesma maneira que não aceitam a descendência africana em suas veias culturais e religiosas e abominam a utilização do termo Umbandomblé, não que eu concorde, pois como disse anteriormente uma religião independe da outra, pois então que deixem de misturar a Umbanda com ceitas e utilizar símbolos secretos muitas vezes utilizados dentro de sociedades como Maçonaria e Circulos Esotéricos.
Alegam eles que a Umbanda evoluiu. Ora, com certeza. Se um espírito aguardou desde sua última encarnação (a considerar dos negros africanos) quase 200 anos ou mais, em menos de 100 sua evolução seria tamanha que os tornariam seres iluminados quase que intocáveis quando em sua forma plasmada ao natural.
A beleza de nossos guias está em seu pé no chão, sua fala arrastada e simples, está na encantadora manifestação de seus hábitos e culturas antigos que nos faz repensar quanto sociedade, como seres de uma civilização trincada e a beira da ruína.
A evolução de nossos guias está em suas experiências. Na benevolência de seus atos, no encanto de suas palavras. Não está em sua cor, em sua ‘evolução’ espiritual. E me desculpem os mais letrados em nossa religião, mas evoluídos são todos os Guias que militam na Umbanda, mesmo tendo sido escravos, índios, caboclos, baianos, enfim, se trabalham hoje na Umbanda, mesmo em função de um resgate Carmico é por permissão de Zambi, na confiança de que até mesmo o mais consagrado doutor da atualidade ainda bate cabeça a um negro-escravo e busca em seus conselhos uma maneira de se livrar das amarras que ele mesmo se pois.
Salvas as entidades de mesa kardecista que de fato se manifestam plasmando sua forma para estarem alinhados VIBRATÓRIAMENTE falando, o que nada tem a ver com nível evolutivo, tenhamos orgulho de nossos mentores, destes negros, índios, baianos, caboclos, boiadeiros, marinheiros, crianças ao invés de querermos determinar que em vida foram grandes e renomadas figuras da história.
A essência da Umbanda, seja qual for o seu seguimento, está na simplicidade. E isto não se restringe às roupas. Pelo contrário, é possível achar um ótimo mistificador sob roupas luxuosas que buscam compensar a ausência do verdadeiro guia e novamente torno a dizer, que não seja considerado via de regra.
Quando retornarem aos seus templos, tendas ou centros, ao verem seus guias trabalhando, lembrem que a Umbanda é Umbanda, Candomblé é Candomblé, mas acima de tudo Orixá é Orixá, seja numa ou em outra religião.
Sente com seu preto-velho e lhe ofereça o afeto e o carinho e aprenda na humildade aquilo que nosso mestre ensinou. Se Jesus que foi o maior mestre que já passou por esta Terra não necessitou de diplomas para prestar a caridade, não tentem pós-graduar seus guias, aceite-os como são. Se negros, negros, se brancos, brancos, mas todos numa única bandeira, numa única Lei, todos Sob a Lei da Umbanda.
Axé

Arokin

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