QUEM É EXU?






Caros irmãos, unidos sob a Bandeira divina de nosso adorado Pai Oxalá, e remissos em nossos pecados diante do Criador onipotente, Senhor de tudo o que se conhece entre os planos visíveis e invisíveis, Axé.






Tomo por necessária a abordagem deste artigo, a fim de que se possa esclarecer algumas mentes arraigadas a conceitos obsoletos quando o assunto em pauta entrelaça o nome Exu.






Em Umbanda, sabemos das diversas formas que esta extrovertida entidade, séria e também audaciosa se manifesta, porém, em suma maioria, esquecemos do detalhe básico que costumamente difere tal entidade das demais que existem no plano espiritual enviadas por Zambi a fim de nos proteger, guiar e conduzir segundo os ensinamentos de Pai Oxalá em sua missão Crística pelo plano terreno.






Antes de mais nada irmãos, não pretendo ditar regras, novas doutrinas ou segmentações desta Umbanda já tão dividida, muito pelo contrário. Meu interesse principal aqui é esclarecer aquilo que nossos mentais são condicionados a crer desde que muitos de nós, sem generalizar, é claro, adentramos no mundo da caridade espiritualista pregada por nossos mentores, guias espirituais da Aruanda de Oxalá.





Não questiono os fundamentos de nenhuma casa ou Zelador, dirigente de seu Peji, porém, coloco em ponto principal alguns fundamentos utilizados até os dias de hoje, onde muito se fala da evolução da Umbanda de crença à religião, mas que ainda mantém conceitos arcaicos e primitivos no que se refere à esta manifestação divina que arrefece os corações com o calor do sangue que pulsa em nossas veias e que, muitas vezes, é limitado à simples bebedor, brincalhão, quando não somatizado a atributos satânicos que sentencia Exu aos planos inferiores da densa Crosta terrestre.





Como sempre costumo dizer, antes que afirmem categoricamente sobre um assunto, peço a cada leitor que se instrua não somente naquilo que seus dirigentes espirituais lhe pedem, mas em tudo aquilo que seus Guias em plena sabedoria, ainda que submetidas à lei do Carma, causa e efeito, tentam irrefutavelmente nos ensinar e nos esclarecer.






Quando falamos de Umbanda, é necessário lembrar seus conceitos e bases.






Chega daquela guerra infundável dos diversos escritores que por muito pouco não se submetem a críticas explícitas em suas obras onde cada um deles afirma ser ou não ser a Umbanda uma religião Afro Brasileira.






Se cada um procurasse entender o conceito filosófico-religioso que forma cada Religião existente nos dias de hoje, perceberia que todas as religiões, incluindo às que movem grandes massas pelo mundo como, Catolicismo, Protestanismo, Islamismo, todas, e sem exceção, são constituídas de valores humanos pré-existentes, conceitos que já existiam antes de seu surgimento somados ao novo dogma e/ou crença, e também a formações políticas que determinaram suas diretrizes.





Sem me ater diretamente a história das religiões, peço que simplesmente recordem ou busquem informações que confirmarão minhas afirmativas, onde encontrarão escritos relatando sobre o Cristianismo Primitivo (tido como aquele que era seguido nos anos e séculos mais próximos da morte de Cristo), e o Cristianismo Medieval, Moderno e Contemporâneo.






Notarão que no decorrer da História as bases do Cristianismo como crença raiz de diversas religiões, foram se adaptando a conceitos próprios, revendo conceitos obsoletos e ajustando fundamentos alheios para contextualizar sua fé de maneira a tornar difícil possível questionamento por parte de doutrinas alheias.






Então caros irmãos, não é vergonha alguma reconhecer que nossa Umbanda possui sim conceitos baseados em crenças de outras religiões, sejam elas de origem africana, européia, oriental ou ameríndia.






Se todos de fato acreditam que a Umbanda é a verdade revelada através destes novos profetas condutores de rebanhos, chamados Pretos-Velhos, Caboclos e Crianças, acreditam também que em se tratando de uma religião de base espírita, acreditando em conceitos chaves da doutrina Espírita como reencarnação, lei da causa e efeito, evolução do espírito, entre outras, a Umbanda não se limita a conceitos de raça, cor, credo e tão pouco conceitos filosóficos desta Terra.





Para deixar mais claro, uma religião que permite trabalhar, em sua tenda, uma entidade que em vida habitou regiões orientais e que pode hoje atender pelos nomes de Cigano X ou Cigana Y, e onde também se recebem Pretos-Velhos, oriundos das senzalas brasileiras, cujos credos derivam dos antepassados Negros Africanos, também crentes das divindades Africanas, os Orixás, não se abateria e tão pouco perderia tempo em relutar se seus conceitos derivam do povos como Atlântida, Ásia e até mesmo aos que carregam consigo um patriotismo maior que sua fé, Brasil. Partindo deste pressuposto, acreditamos então que a Umbanda é Umbanda antes mesmo de possuir pátria ou nação.






Aceitando desta forma a pré-existência dos Orixás do culto africano aos Orixás cultuados hoje em nossas tendas, aceitamos de maneira humilde a herança que tais Orixás nos deixaram através dos tempos e dos nossos antigos irmãos escravizados.






É muito comum, em concorrência com as seitas Protestantes, vários Umbandistas se calçarem de afirmações, quando não, acusações, achando brechas entre o Antigo e Novo Testamento para atacar os dogmas de seus seguidores numa espécie de auto-defesa. Mal lembram que se querem defender sua crença, devem conhecê-la melhor, antes de buscar falhas ou fissuras nas crenças alheias.






Mas a estes Umbandistas, podemos lembrar que a Umbanda também possui duas bases principais. Uma africanista que determina serem os Orixás as manifestações de Deus, e outra que pode englobar as demais bases filosóficas da Umbanda, com exceção da cultura indígina, sendo ela a base Cristã.






Desta forma temos um “antigo testamento”, deixado pelos nossos mentores que se fundamenta no culto aos Orixás, e um “novo testamento”, baseado nos fundamentos Cristãos sejam eles de base Kardecista ou Católica Apostólica Romana.






Assim sendo, não há como negar que o culto aos Orixás na Umbanda fora adaptado aos fundamentos Cristãos dando origem à religião que conhecemos e seguimos. Logo, o processo de adaptação, como todos sabemos se deu através de longos séculos onde santos católicos foram aos poucos substituindo em formas (e não em culto) os Orixás Africanos já infundidos à alguns conceitos Indígenas, e que em meados do século XIX recebeu o respaldo Kardecista que veio colocar tais causos na condição de manifestações do plano espiritual, claro que de certa forma adaptando a concepção pré-definida das elites Católicas ou Protestantes que encaravam, como ainda nos dias de hoje às visões mais resistentes, como manifestações demoníacas.





Antes de tudo aos irmãos que possuam alguma dúvida, busquem o significado do radical “demon” e encontraram um dos motivos pelos quais tais crenças, ainda nos dias de hoje, encaram as manifestações espirituais como atos demoníacos voltados à prática do mal.






Entretanto, enquanto estamos falando de Orixás como representações da natureza, divindades que em seu culto original lidavam com elementos muito parecidos com os dos Santos Católicos, e em níveis mais primitivos com “funções” que alicerçavam a agricultura, o amor, a fé, a guerra, etc, um dos maiores paradigmas criados surgiu quando uma determinada divindade ligada à sexualidade, ao movimento, por muitas visões tido como o “brincalhão”, com generoso símbolo fálico que o representava, seu Ogó, pronto, não demorou muito para que as visões mas estreitas de cunho Hebraico-Cristãs, classificassem tal divindade como sendo a própria representação Africana de Lúcifer, Satanás, o Anjo Caído, chifrudo, o de baixo, o sem Luz.






Não distantes disto, em semelhança as qualidades de Exu masculinas, sua qualidade feminina seguiu seu rumo aos infernos Cristãos.






Não demorou muito e Exu assumiu uma visão esquerdista ( e não é a toa que na Umbanda se refere a Exu como uma entidade da ‘esquerda’), e assim como alguns Orixás, Exu e Pombo-Gira sofreram suas metamorfoses em território brasileiro, substituindo seus símbolos fálicos por tridentes, sua pele e cores, avermelhadas em alusão à tonalidade simbólica do inferno, quando não distantes, as patas de suas comidas rituais foram atribuídas as suas imagens, ou seja, pés de bode substituindo a perna humana. Sendo o próprio bode na cultura Cristã um dos símbolos satânicos, não demorou muito também para que os chifres lhes fossem colocados juntamente com rabos e orelhas ponteagudas. Se as culturas Hebraico-Cristãs conseguiram fazer de Príabo seu próprio demônio durante sua estruturação, nesta nova visão ocidental o Deus Greco-Romano foi dando lugar novo deus pagão que devia ser condenado e sentenciado e classificado como Lúcifer, o Anjo Caído das plagas astrais de Jeovah.






É importante lembrar que todas as formas de culto aos Orixás eram consideradas pagãs, assim como as demais que fugissem dos conceitos Cristãos ditados tanto pelo Vaticano quanto pelos bispados Protestantes, porém, o verdadeiro calcanhar de Aquiles dos cultos Afro se limitou a Exu e Pombo-Gira. Suas lendas muitas vezes aterrorizantes, com brincadeiras que quebravam os hábitos e costumes, sua posição oposta aos costumes Cristãos, tudo colaborou para que Exu fosse afundando e afundando, como ainda hoje ouvimos vários médiuns e até mesmo Exus dizerem de si próprios.






O fato é que quando à anunciação da Umbanda, sua formação hierárquica dos espíritos em funções bem definidas como enviados dos divinos Orixás, não poderia acontecer diferente às entidades que militassem à Exu e Pombo-Giras como vindas de baixo, dos planos astrais inferiores, espíritos ainda carentes de doutrina e ensinamentos Cristãos.






Em verdade, na África Exu já assumia a posição das entradas das tribos. Tal divindade costumava ser saudada e “despachada” literalmente, a fim de que o xirê dos Orixás pudesse transcorrer na mais plena ordem, mas acima de tudo qualificado como o único capaz de abrir os portais do Orum e servir de mensageiro entre o plano terreno e o mundo dos Orixás.






Enquanto os guias da chamada direita assumiam a condição de “pais e mães” em respeito às suas hierarquias, conhecimentos e evoluções, a Exu e Pombo-Gira couberam no máximo os papéis de Compadre e Comadre.






O mensageiro dos Orixás passava agora à condição de Guardião. A polícia capaz de descer às plagas inferiores e resolver as mandingas e quizilas existentes.






Não distante disto, em uma visão bastante unilateral de fundamentos candomblecistas, os Orixás vêem a felicidade seus yawôs acima de qualquer coisa. O importante era que a felicidade e a ordem fossem garantidas a seu protegido, ainda que para isto fosse necessária a destruição de outra vida, família ou pessoa. É claro que estamos lidando com energias densas da inferioridade intelectual humana. Em se tratando de divindades, e ainda que em sua forma Original Africana possuíssem características que depunham contra a moral Cristã, o que move as energias segundo nossa crença é a capacidade de escolher, ou seja, o livre-arbítrio. A maldade existe, o mal existe, mas é atraído e formalizado através do homem.






Não é preciso muito para saber que se de fato os planos inferiores esperavam por alguma oportunidade para tomar conta da situação, encontraram nos despachos e trabalhos feitos sem propósitos de culto, mas com finalidades e interesses próprios arriados em encruzilhadas, cemitérios e outros campos em que geralmente encontram-se kiumbas que como mariposas aguardam por uma luz, os chamados rabos-de-encruza.






Desta forma, apenas nas últimas décadas do século XX, e ainda assim em algumas tendas apenas, Exu e Pomba-Gira começaram a ser mais do que simples guardiões, e percebemos determinada ascensão destas entidades.






Para os demais centros Umbandistas chegava a ser, como ainda o é, uma heresia trazer Exu para o plano Terra.






Quando indagados, as afirmações eram e ainda são claras “Exu é uma manifestação espiritual de determinado ser que quando em carne não seguiu de maneira prudente as Leis da Terra e principalmente às Leis de Deus e que hoje trabalham como Exus para serem moldados e doutrinados, e através da caridade possam alcançar novos degraus rumo à evolução”.





Não é necessário graduação na Umbanda para saber que todas as entidades que se manifestam pelos terreiros, são irmãos desencarnados que em função da Lei da Causa e Efeito se realinharam às leis divinas e receberam por níveis vibratórios, experiências e uma série de outras condições uma determinada ‘Linha’ das chamadas Linhas da Umbanda, onde encontrariam condições para aprimoramento de seus evolutivos.






Então pensar que Exu e Pombo-Gira também se encaixam neste quadro de espíritos não é em verdade errado, porém, como temos percebido em grandes escalas principalmente nesta primeira década do século XXI, é que os antigos pés de bode, chifres e rabos foram sendo substituídas por imagens mais humanizadas, e seus tons de pele vermelhas foram dando lugar às tão merecidas peles negras, morenas, e até mesmo a pele avermelhada, mas não pelo enxofre ou pelos fogos do Inferno, mas por serem estes espíritos Índios que hoje militam como Exus.






E qual é a surpresa meus irmãos? Se o próprio Caboclo das 7 Encruzilhadas disse que nesta Umbanda seriam estas raças e todos os espíritos que não encontrassem lugar em mesas kardecistas que atenderiam pelo nome de Caboclos de Ogum, Caboclos de Oxósse, e assim por diante.






Sejamos sinceros, se os mais esclarecidos hoje percebem que Nana, Oxum e Iansã não são Orixás que trabalham na linha de Iemanjá e que tampouco Oxumaré deixou de ser Orixá para ser uma qualidade de Oxum, sabemos também que colocar Exu apenas como uma entidade que trabalha na linha de Omulu, ordenado por Ogum, o mesmo tem retornado ao seu lugar de direito, como Orixá que rege uma linha imensa de espíritos que atendem por nomes como Exu Tranca-Rua, Pomba-Gira Maria Padilha, e assim por diante.






Exu que antes estava a esquerda dos caminhos Umbandistas, agora passa a assumir sua condição secular de Guardião dos Caminhos como Ogum e Oxósse.






As Pombo-Giras antes vistas como amigas dignas de respeito, sendo elas as que na maioria das vezes nos compreendem à fundo, pois sem dúvida suas experiências nos remetem à laços mais terrenos. O que não significa que são caídas, promíscuas ou oferecidas.






À luz da verdade, hoje percebemos que os médiuns mais esclarecidos conseguem identificar quando a incorporação de um verdadeiro Exu de Lei ou de apenas um Espírito Zombeteiro capaz de simular situações e que aproveitando-se das válvulas de escape de médiuns ignorantes em sua crença e fé para tornar uma simples gira num show de mistificação.






Tendo por base os ensinamentos deixados por Kardec no Livro dos Espíritos e demais obras, e o impressionante acervo que nos é entregue diariamente pelo plano espiritual, incluindo dos que nos são entregues diretamente da boca de um Preto-Velho, Caboclo ou Criança militante da Lei da Umbanda, sabemos que nossos Irmãos Exus e Pombo-Giras são assim como os demais guias da Lei de Pemba, espíritos buscando suas respectivas evoluções, agindo e se manifestando conforme a vibração de seu Orixá regente determina.











AUTOR: Arokin

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