ORIXÁS NA UMBANDA E CANDOMBLÉ

Salve a banda de todos os amigos e irmãos.


Ultimamente tenho encontrado muitos irmãos aflitos e confusos oriundos de centros Umbandistas e ‘barracões’ de Candomblé.

Entretanto, fico mais perplexo ao perceber que tamanha confusão não se origina na cabeça dos médiuns despreparados ou “Abiãs”, mas sim dos Sacerdotes, Babalorixás e Yalorixás que no afã de propiciar ao seu filho de fé uma estrutura concreta de conceitos, acabam por construir uma ponte obtusa entre o conhecimento e a razão.

Em se tratando do campo religioso, pouco posso discorrer, porém, é muito importante que todos nós tenhamos a concepção de que a fé necessita do ‘Crer’ para existir, porém, é necessário saber aquilo que se crê.

Não é incomum encontrarmos os extremistas, onde tudo se resume ao seu pensamento, a sua maneira de crer e quando não, os atos que são realizados dentro de seu Ilê, ou centro, são os únicos que agregam verdadeiro valor aos Orixás.

Hoje os médiuns surgem aos milhares nas portas dos centros Umbandistas, e novos Iawôs são feitos nas roças de Candomblé com tamanha rapidez que os mais observadores e por que não chamá-los de coesos, se espantam com a ruptura dos preceitos estabelecidos dentro da estrutura dos cultos de Nação.

Devem estar achando um tanto estranho que eu, um Umbandista, estejam me aventurando a comentários sobre os cultos de Nação, e aceito de bom grado o adjetivo de aventureiro que com certeza será um dos tantos que me agregarão após a leitura deste texto, porém, gostaria que cada um dos interessados colocasse um ponto de interrogação em suas mentes e verificasse se é ou não válida tamanha aventura que se envereda pelos campos da razão e do auto-conhecimento.

Onde há fé, a ciência se retira, e o mesmo se aplica no oposto, mas peço mais uma vez que excluam por um momento as certezas que possuem para que possam por um momento chegar em seus dirigentes sacerdotes e questioná-los simplesmente “porquê?”

E desta forma saírem da condição “kosi” em que são subjulgados por não possuírem tantos anos de feitura ou de santo como alguns chamam.

Para ratificar algumas afirmações, ou até questionamentos que farei, utilizarei de referências bibliográficas conceituadas tanto no meio Umbandista, com nos Candomblés, e também nos Umbandomblés, que falaremos muito no decorrer desta obra.

Previamente gostaria de elucidar o significado de Orixá nas concepções de alguns autores, para que possamos juntos concluir um raciocínio:



Mas afinal, o que é Orixá?













“O Orixá é uma força pura, àse imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido pelo Orixá, um de seus descendentes, é chamado de seu elégùn, aquele que tem o privilégio de ser “montado”, gùn, por ele.

Torna-se o veículo que permite ao Orixá voltar à terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram.(...)”

Livro: Orixás

Autor: Pierre Fatumbi Verger

Editora: Currupio

Página – 19



“ Esta palavra, que é ORISHÁ ou ORISÁ, foi por contração extraída da primitiva ORISHALÁ, ou ORISA-NLA e tem sua origem nas línguas Árabes, Persa, Egípcia, Sanscrita, Vatan ou Adâmica etc., que havia chegado à raça negra abreviada para melhor aferir a pronúncia (o S yorubano ou nagô tem o som de CH ou X)...” ....

... Juntando-se essas sílabas falantes verificamos que os africanos, e nós também, a pronunciamos assim : ORIXALÁ, que significa A LUZ DO FOGO DIVINO ou LUZ DO SENHOR DEUS, que corresponde a Iluminados pela Divindade, pelo Conhecimento, pelo Saber, etc.(...)”

Livro: Umbanda de Todos Nós

Autor: W.W. da Matta e Silva

Editora: Ícone

Página – 91,92





“Orixá é um termo yorubá que podemos traduzir por “deuses” ou divindades de Deus, e nós bem sabemos que o que definimos por divindade é um conceito humano sobre um mistério de Deus. ...

...Sim os Fatores de Deus. (...)”

Livro: Orixás – Teogonia de Umbanda

Autor: Rubens Saraceni

Editora: Madras

Página – 11





Claramente podemos perceber que a relação “Divina” entre estas definições de Orixás ficam bem explícitas.

Antes que alguns irmãos incitados pelas pelo próprio receio de verem suas crenças ameaçadas me questionem o porque de colocar definições de autores tanto de Umbanda quanto de Candomblé, e a resposta é simples meus irmãos, pois este é o tema principal desta obra, o fiz pois falo de Orixá, e antes destes assumirem concepções humanas como preceitos, conceitos, tabus e quizilas, são Orixás.



Mas Umbanda é Umbanda e Candomblé é Candomblé, correto?

Corretíssimo, porém, como já disse em outras obras, a Umbanda bebe do mesmo seio que os Cultos de Nação, pois lida-se com Orixás e não com outro e qualquer tipo de divindade que não do Panteão Africano trazido por nossos antepassados negros, escravos, que adaptaram seus cultos em solo Brasileiro.



Sendo assim, sabemos que a Igreja Católica Apostólica Romana é uma e Concepção da Fé Protestante em suas diversas igrejas é outra, porém todas bebem do mesmo seio, a Bíblia, variando os conceitos, interpretações e livros que compõe o livro sagrado.



Além das definições acima, escuto tantas outras definições sobre o que seria Orixá, e acreditem, concebo em minha mente que todas estejam corretas, pois como mencionei acima, em se tratando de fé a ciência se abstêm, e por ciência entendam por pensamento racional, haja vista que a Fé propriamente dita não lida com a Razão e nem carece de informações Sociais, Políticas, Históricas quaisquer que sejam para se edificar.



Mas uma fissura se abre no momento que tais aficionados por suas próprias concepções afirmam serem eles os únicos portadores do conhecimento do Culto a Orixá e o pior, serem eles os únicos que de fato cultuam a Orixá, sendo as outras formas de crer em tais divindades menores, sem fundamentos, ou “escrava” dos conceitos de “raiz”.



O fato mais intrigante é que ouço isto constantemente de alguns praticantes dos Candomblés, quando afirmam que se o “médium” como é chamado na Umbanda não for raspado, catulado, adoxado, e tudo mais, não é de Orixá.



E outra pergunta se forma:



Mas de fato, quem é de Orixá?



Recorrerei novamente a algumas explicações dos mesmos autores citados acima:



“ ... A religião dos Orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O Orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiriam um controle sobre certas forças da natureza, como trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. O poder, o àse, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada.(...)

Os elégùn muitas vezes são chamados de iyawóòrìsà (iaô), mulher do Orixá. Este termo tanto se aplica aos homens quanto às mulheres e não evoca uma idéia de união ou de posse carnal, mas a de sujeição e de dependência, como antigamente as mulheres o eram aos homens.(...)

Orixá, ancestral divinizado, é um bem de família, transmitido pela linhagem paterna. Os chefes das grandes famílias, os balè, delegam geralmente a responsabilidade do culto ao orixá familiar, a um ou a uma aláàse, guardião ou guardiã do poder do deus, que dele cuidam ajudados pelos elégùn, que serão possuídos pelo orixá em certas circunstâncias.

Livro: Orixás

Autor: Pierre Fatumbi Verger

Editora: Currupio

Página – 18-20



“ Há séculos que não existem mais no Brasil cultos africanos puros. Neles, a razão de ser ou a força de seus rituais firmava na invocação de Orixás – que é o aspecto fenomenológico, o contato com o sobrenatural – que eram considerados Espíritos Superiores, “deuses”, Senhores dos Elementos da Natureza, etc., e que nunca passaram pela condição humana.(...) As invocações eram feitas em seus rituais e acreditavam que os Orixás-Ancestrais, os ditos como “donos dos elementos”, não podiam “baixar” – incorporar em um médium – chegar ao “reino”, mas mandavam seus enviados em seus nomes, representando suas forças. Eram os Orixás intermediários.(...)”

(resposta dada pelo Preto-Velho, cujo nome é omitido numa conversa com médium relatada na obra citada)



Livro: Lições de Umbanda (e quimbanda) na palavra de um “Preto-Velho”

Autor: W.W. da Matta e Silva

Editora: Livraria Freita Bastos S.A

Página – 16





“(...)Quanto à Palavra Orixá, queremos que fique bem claro ao leitor e Umbandista, que identifica realmente o espírito que tem UMA CHEFIA.

Assim adimitiam os próprios africanos que viveram no Brasil e têm dado margem às mais disparatadas opiniões pois para os africanos, o Orixá podia ser, também, um espírito superior (um guia) que invocavam com cânticos e palmas, até a sua “manifestação”, isto é, sua incorporação nos “médiuns” dos seus terreiros ou candomblés.

Este Orixá era expoente de uma força da natureza, de uma divindade.

Vamos recorrer, mais uma vez a Nina Rodrigues (pág. 376): “Mostrei, no ‘Animisme Fetichiste’, que a missa de sétimo ou do trigésimo dia do falecimento de uma ‘filha de santo’ ou melhor, de ‘pai ou mãe de terreiro’, constitui um misto de práticas africanas e católicas. À missa católica, segue-se para conhecer suas deliberações últimas. A manifestação do espírito, ou é a do próprio morto, ou a do Orixá a que ele era votado e reproduz um dos “estados de santo” comuns.(...)

Livro: Umbanda de Todos Nós

Autor: W.W. da Matta e Silva

Editora: Ícone

Página – 90





“ A Umbanda é fundamentada pelos espíritos incorporantes que conquistam a mente e o coração das pessoas, por meio espiritual. Por vontade de seus mentores, a Umbanda incorporou os nomes iorubas das divindades, sua teogonia,(...)teofania(...), ...cosmogonia(...)

Unificando todo o universo Umbandista.(...)

A cada renovação religiosa e surgimento de uma nova religião, os sete Tronos Divinos renovam os nomes dos membros de suas hierarquias, porque aquelas que alcançaram um grau e um poder multidimensional tanto podem ascender para graus celestiais(extraplanetários) quanto podem optar pela humanização do seu mistério individual e fundar uma nova religião na dimensão humana, como podem optar por espiritualizar-se e trazer consigo sua hierarquia pessoal, cujos membros encarnarão e acelerarão a evolução humana.(...)

Livro: Doutrina e Teologia de Umbanda

Autor: Rubens Saraceni

Editora: Madras

Página – 26



Caros irmãos, sei que a priori tais trechos reunidos compõem, obviamente, a opinião de diversos autores, cujas escolas doutrinárias são distintas, porém é importante ressaltar que o título “Orixás” de Pierre Fatumbi Verger tem muito mais um caráter histórico do que religioso, haja vista que se tratam de relatos vividos e presenciados pelo próprio autor indiferente de sua crença e fé, diferente dos demais.

As concepções dos candomblés derivam basicamente do que encontramos relatados em suas obras.



Nestes trechos relatados encontramos alguns termos que nos levam a pensar sobre um único tema, ORIXÁ. Dentre eles encontramos, “orixás ancestrais”, “divindades”, “ espíritos superiores”, “deuses”, enfim várias designações que como disse, não qualifico como erradas ou corretas, haja vista que englobam a questão de fé, porém, percebemos trechos notórios de que mesmo em se tratando de Orixás, tais seres habitam em um nível espiritual superior e que por meio de ‘transe’ ou ‘mediunidade’ através dos cultos e rituais pertinentes a cada culto se manifestam nos seres humanos seguidores do culto ao Orixá.



Entretanto, sabe-se que muitos Candomblecistas abandonaram seus barracões ou foram levados pelos seus próprios Babalorixás ou Yalorixás ao que se chama “Culto ao Orixá”, que significa cultuar à um Orixá específico, bebendo diretamente dos cultos originais da África após estudos e viagens, consagrações e feituras.

Isto nos adiciona mais uma forma de olhar o culto dos Orixás e principalmente de saber quem de fato “é de Orixá” ou não.

Quando questionados sobre quem são seus Orixás de cabeça, os Umbandistas afirmam: “Ogum”, ou “Xangô”, ou, “Iemanjá”, e assim sucessivamente, porém são logo abalroados pela questão: Mas como você sabe que este é o Orixá de sua coroa se a Umbanda não aceita o jogo de Búzios, sendo este permitido somente ao “filho de santo” após sua feitura de sete anos dentro de seu devido barracão onde o mesmo receberá seu deka e a mão de ifá.

Como seria possível identificar um Orixá sem os búzios? Logo, na concepção de tais “filhos de santo” a Umbanda cai em profunda redundância e num mar sem fundamentos.

Sobre isto, encontra-se relato do sacerdote Umbandista, também feito, raspado, catulado e adoxado no santo por um dos Babalorixás mais conceituados do Rio de Janeiro (Joãozinho d’Agoméia) Babalaô Ronaldo Antonio Linares em sua obra “Jogo de Búzios”



“Escrever sobre o JOGO DE BÚZIOS NA UMBANDA é quebrar um tabu mas, o que não diremos do respeitado e insuspeito W.W. da Matta e Silva que teve a coragem, o destemor de titular uma de suas obras de “Macumbas e Candomblés na Umbanda”. Se podem as macumbas e os candomblés coexistirem na Umbanda, os búzios naturalmente também podem. (...)”

Triade Editorial

(Apresentação)



Partindo deste pressuposto, e acreditando que de fato esta afirmação é verídica, pois sabemos que nossos queridos Pretos-Velhos, Baianos, Boaiadeiros, na mais lidam com pequenas macumbas, mandingas, mirongas, e que se estudadas mais afundo, perceberão seus médiuns que estão, muitas delas, alicerçadas nos cultos africanos, derrubamos a afirmação de que somente o ‘povo do santo’, como se intitulam alguns candomblecistas, é que possuem acesso a tal oráculo. A quem tiver interesse nos fundamentos e conceitos do autor, peço que leiam a obra mencionada.



Mas isto não é tudo. Meu próprio mentor espiritual, Baiano Zé dos Cocos, não utiliza dos búzios como oráculo. Seu oráculo é oriundo de cultos do catimbó que também foram introduzidos aos cultos de nação e que sabe de seus segredos e fundamentos somente ele e seu povo no plano espiritual.



Isto vem provar que dados os devidos fundamentos, zelos, ritos e preceitos, é possível se chegar a um denominador comum pois como disse não estou falando de religiões, mas de fé nos Orixás de um modo muito mais amplo.



Porém constatamos um erro imenso nestes pretensos iaôs recém saídos dos roncós e que se julgam já prontos a ditar quem pode ou não ser de Orixá, e este erro é simplesmente a falta de conhecimento. Sabem de rezas, sabem de atos e preceitos, mas não sabem ao certo quem ou o que é aquela energia que se manifesta que afirmam categoricamente serem o Orixá e não um catiço qualquer.



Como já vimos, na obra de Verger, o culto original dos Orixás na África era estritamente familiar, mantendo laços de ancestralidade sangüínea com a tribo que cultua tal Orixá.

Ora, mas para que haja ancestralidade seria necessário que tal Orixá tivesse existido em nosso plano, como humano. Verger descreve ilustra isto:



“A passagem da vida terrestre à condição de Orixá desses seres excepcionais, possuidores de um àse, poderoso, produz-se em geral em sentimento de paixão, cujas lendas conservam a lembrança.(...) Sàngó tornou-se o objeto desta mutação quando um dia, exasperado por ter destrído seu palácio e todos os seus, subiu a uma colina em Igbeti, perto da antiga Oyó, e quis experimentar a eficácia de um preparado destinado a provocar o raio.”

Livro: Orixás

Autor: Pierre Fatumbi Verger

Editora: Currupio

Página – 18-20





Ora, mas acreditar que um ser humano simplesmente se encantou e tornou-se um ser iluminado, um deus, é simplesmente mergulhar no âmbito da fé, pois é o mesmo que pedir a um Judeu Ortodoxo que acredite que Jesus seja o Messias, tenha sido crucificado e ressucitado ao terceiro dia para só então ascender aos céus e ocupar seu trono ao lado do Pai Supremo Javé.

Entretanto, é fato que as estruturas e organizações de culto e tribos, relações políticas e sociais da África derivava basicamente da ancestralidade, da invasão e guerras entre as tribos, e conquistas de regiões onde um “antepassado” louvado como um deus naquela devida região passa a ser parte integrante do panteão de uma outra tribo ou região, e assim, o culto a Oxum se funde com o culto a Oxósse e logo nasce o culto a Logun Edé, Oxalá, Orixá mais antigo do panteão Yorubá em Ifé passa a dividir sua antiguidade e mesma importância com Nanã, deusa suprema cultuada no Daomé.

E para cada Orixá, se interessante for ao leitor, encontrará uma correspondência com um Patriarca, Matriarca, Rei ou Rainha tribal da história Africana.

Não esqueçamos que os próprios Egípcios também possuíam esta característica e louvavam seu Faraó como um Deus encarnado.



Alguns exemplos citados na obra de Verger:



“a maior parte das sociedades iorubas era, antes da conquista de Ifé por Oduduá na Etapa dos mini-Estados, de estrutura política extremamente mirrada, onde a maior parte das funções religiosas, a agricultura e as atividades sociais eram limitadas ao mínimo. Era uma civilização de aldeia e não de cidade. A recuperação dos mini-Estados pelo grupo Oduduá aparece como o primeiro fator de urbanização.

Odudua, após ter integrado, no âmbito dessa centralização, bom número de pequeníssimas aglomerações para fundar a cidade de Ifé, enviou em seguida seus descendentes diretos para fazerem o mesmo em regiões às vezes afastadas. Existem ainda grupos de indivíduos que falam Iorubá na região central do Ex-Daomé e do Togo, assim como no nordeste do antigo território diretamente controlado por Odudua e seus descendentes.

Esses grupos caracterizam-se pela ausência ao culto de Orixalá, Xangô, Oxum, Iemanjá, e outras divindades Iorubás e pela presença dos cultos de Xapanã, Nanã Buruku e Oxumaré(...)

(...) O culto a Xangô, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do trovão. Oxum, cujo culto é muito marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na região de Egbá. A posição de todos estes orixás é profundamente dependente da história da cidade onde figuram como protetores: Xangô era, em vida, o terceiro rei de Oyó, Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos reis locais, e em conseqüência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador da cidade de Ifé, cujos filhos se tornaram reis em outras cidades Iorubás, conservou um caráter mais histórico e até mesmo mais político que divino.(...)

Livro: Orixás

Autor: Pierre Fatumbi Verger

Editora: Currupio

Página – 15-17



Desta forma, percebemos um caráter terreno e humano escondido por trás da divinização dos Orixás em solo africano.



Deste ponto partimos para a vinda dos escravos africanos oriundos das mais diversas tribos ao Brasil, trazendo consigo o culto ao seu Orixá Ancestral e que em solo nacional ganha uma nova vertente, e que somados a outros Orixás formaram aos poucos o panteão dos 16 Orixás Iorubá, incluindo Nanã, Oxumará e Obaluaê que mesmo sendo Daomeanos, foram sucumbidos em guerras antigas por tribos Yorubás.



“Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polêmica sobre as multiplicidades dos Orisás chamada por todos de qualidade de Orisá

Para melhor entendimento é que na África não há qualidade de Orisá; ou seja, em cada região cultua-se um determinado Orisá que é considerado ancestral dessa região e, alguns Orisás por sua importância acabam sendo conhecido em vários lugares como é o caso de Sàngó, Orumila, etc.



É de se saber que Esu é cultuado em todo território africano, da forma que Osun da cidade de Osogbo é Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de Ire é Ogún de Ire (Onire: chefe de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo,etc. Na época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias



Ijesas, Oyos, Ibos, Ketus,etc e cada qual trouxe seus costumes juntos com seus Orisás digamos particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de

informações entre eles cada sacerdote ou quem entendia de um determinado Orisá trocaram fundamentos e a partir daí surgem todos esses aspectos, e essa quantidade de Orisá presente aqui no Brasil, sendo que o Orisá é o mesmo com origens diferenciadas. “

Fonte: http://www.orixas.com.br

Escrito por Fatola



Desta forma, caros irmãos, fica claro que as diversas qualidades que hoje imperam pelos diversos cultos de Nação e até mesmo em alguns seguimentos da Umbanda nada mais são do que designações da região onde se cultuava aquele determinado Orixá Ancestral.

Porém, para que houvesse a devida preparação do elegun de modo que ele estivesse apto a ser “montado” pelo Orixá ancestral, além dos preceitos e atos religiosos, um outro fator era imprescindível e notório, a ancestralidade.



Desta forma os Orixás Ancestrais passaram a dar lugar aos Orixás Individuais identificados através dos búzios na coroa dos respectivos filhos de santo que agora se viam na necessidade de deixar as antigas tribos africanas de culto a um único Orixá por um Ilê de culto a todos os 16 outros que migraram para o Brasil. (Isto em se tratando de Yorubá)

Um porém é levantado por Verger devido ao crescimento e expansão dos Candomblés em pleno século XX:



”Os transes de possessão dessas pessoas têm geralmente um caráter de perfeita autenticidade, mas parece difícil incluí-los na definição do Orixá Ancestral que volta a terra para se reencarnar, durante um momento, no corpo de um de seus descendentes.

Embora os crentes não-africanos não possam reivindicar laços de sangue com os seus orixás, pode haver, entre eles, certas afinidades de temperamento(...)

Podemos chamar essas tendências de arquétipos da personalidade escondida das pessoas.

Livro: Orixás

Autor: Pierre Fatumbi Verger

Editora: Currupio

Página – 33-34



Ora, como podemos afirmar então que fulano é filho de Ogum ou de Xangô? O jogo dos búzios parece a única forma de nos mostrar tal resposta, mas acima de tudo descobrimos um outro porém, embora seja comprovado nos búzios que o Ori de um filho de santo pertece a determinado Orixá, incluindo sua “qualidade”, isso não torna este Orixá comum à coroa de todos outros que sejam consagrados à mesma qualidade deste Orixá.

Logo ser impossível que a mesma Iemanjá Soba consagrada a uma filha em São Paulo seja a mesma colocada na coroa de uma Yaô do Nordeste ou de outro Ilê qualquer. São divindades diferentes e isto parece muito óbvio, já que em seu Orunkó são dadas normalmente outros indícios de qual tribo aquele Orixá em específico era cultuado originalmente, sendo assim seu nome.



Mas se estes antepassados não são Eguns já que são Orixás divinizados, existe algo que os difere dos Eguns comuns que possuem culto específico.

Sabemos então que os Orixás em âmbito histórico passaram pela Terra, foram humanos, de carne e osso, como nós, porém, se tornaram divinos.

Muito me espanta então alguns poucos Babalorixás dos Cultos de Nação afirmar que o que se recebe nos templos de Umbanda são Eguns. Quando não distante, os caboclos de Ogum ou de Iemanjá que se manifestam nos templos de Umbanda passam a receber o nome de catiços para designar “escravos de Orixá”.



Porém, o que difere a divindade do Candomblé que também passou pela carne como nós e dos Oguns, Xangôs e outros guias que trabalham na Umbanda ?



Seriam mesmo os Guias de Umbanda os catiços? Ao meu ver existe uma situação igualitária.



Certa vez, quando questionado sobre as diferentes formas de trabalho dos guias e até mesmo manifestação dos Orixás, meu mentor espiritual Baiano Zé dos Cocos afirmou existir diversos planos espirituais que se aglutinam por níveis vibratórios afins e que desta forma se diferenciam umas das outras, dando origem as mais diversas linhas de trabalho, Indígenas, Africanas, brasileiras, enfim.



Outro ponto curioso está no fato de muitos Ilês de candomblé nos dias de hoje estarem trabalhando com Guias de Umbanda. Isto quando o mesmo caboclo x que trabalhava na Umbanda é “feito” no ronco e passa então a se portar como Orixá.



Não distante disto, os chamados Umbandomblés, unificam Umbanda e o Candomblé que embora bebam da mesma fonte “NÃO SÃO A MESMA COISA”, não pelos Orixás mas pelos preceitos e fundamentos que cada uma seguem.



Vezes destas cheguei a ouvir que Sr. Ogum Iara (entidade da linha do Orixá Ogum) que trabalha comigo na Umbanda era um Orixá e que só não dançava pois não lhe fora ensinado por meu Babalorixá o pé de dança dentro do roncó (este que na Umbanda não existe).



Esta visão espírita de colônias espirituais parece um clichê capaz de explicar claramente as diferenças entre as entidades da Umbanda e os “Orixás” do Candomblé, mas vai além, ela nos mostra o quanto as duas religiões podem comungar no louvor aos Orixás, mas sendo todos cientes de que nossos amados Orixás são divinos demais para se manifestarem em corpos tão corrompidos como os nossos.



Nem mesmo toda a preparação dentro de um roncó purificará o corpo de uma Yaô que após a sua feitura desrespeita os atos e os preceitos de seu Ilê e mantém relações sexuais com seu irmão de esteira, isto quando não estamos falando de Babalorixás que corromperam tanto o culto que hoje ouve-se brincadeira do tipo “fulano não deitou pro santo, mas pro Pai de Santo”.



Somos Umbandistas, mas não somos kosi, devemos entender e mostrar que sabemos por que cultuamos os Orixás desta forma.

Não é demérito a Umbanda ter influência de diversas linhas doutrinárias ou religiões e ceitas, se na realidade o Candomblé nada mais fez do que juntar em seu barracão o culto que antes era feito em tribos isoladas na África.

Se a Umbanda é uma junção de fundamentos, o que na visão de muitos candomblecistas é caracteriza uma falta de fundamento, o Candomblé não fica atrás ao unir Orixás como Nanã e Ogum, que embora não “comam” juntos, podem muito bem pegar a coroa de dois Iawôs em seus barracões sendo um de Origem Daomeana e outro Yorubá.

Pesquisem meus irmãos, e verão as origens das primeiras casas de Candomblé no Brasil e verão que a miscigenação dos cultos é eminente e nem por isso o Candomblé pode ser qualificado por não cultuar de maneira correta o Orixá ou o torna sem fundamentos.

Irmãos Umbandistas e Candomblecistas, isto não se trata de uma guerra de opiniões, mas de uma conjunção de fatos que nos colocam em estradas paralelas nossas crenças, porém ambas nos conduzindo a uma mesma fonte.



Axé

Saravá

Kolofé

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